ABISMO DA ALMA

Vagueio por entre escombros que me dão calafrios. Algo que
revolve minhas entranhas me fazendo acreditar que serão meus últimos passos em
meio à escuridão e que tudo o que se firma sob meus pés se desfará como cinzas
e então pairarei sobre o infinito do nada e cairei no breu, sabendo
conscientemente que minhas lágrimas se fazem por saber que este mesmo abismo em
que estou submerso nasce da minha alma e toma proporções que me envolvem de uma
maneira terrivelmente irresistível.

Como escapar do nada. Como vislumbrar uma luz (que seja como
um grão de mostarda), no negro buraco que se formou em meu próprio imo? As lágrimas
não me dão consolo nem tem poder de me trazer sanidade, pois os espectros de
mim estão à minha volta, e nada posso fazer para me desfazer das linhas que
envolvem sorrateiramente o meu eu, tornando-me um casulo de mim mesmo.

Gritar? Chorar? Me concentrar em algo que não seja a
angustia de estar assim? Pra que? Pra quem? Como? Se o som que sairia dos meus
lábios não surtem no ar nenhuma vibração?

Pra que buscar respostas ou justificativas dessa tristeza
tão grande?

Não há porquê! Não há mistérios e mesmo assim a lucidez não
se faz para que eu compreenda.

Pra que pensar em ser pássaro para voar e fugir? Voar pra
onde? Fugir de que? Se o abismo que me envolve nasce de dentro de mim?

Não sou suficiente. Não consigo mais lutar. Estou entregue
ao terror de mim mesmo.

A insignificância do homem se dá ao ser percebidos os seus
maiores temores.

E em meio a tanta confusaao, discórdia e medo, a única
palavra; o único som que sai da minha mente para dentro dessas trevas é: “PAZ!”,
como num pedido para Alguém que em algum lugar esteja me contemplando e
dizendo: “NÃO ÉS DIGNO, MAS A TERÁS!”

E então me deleito mesmo em trevas por saber que um dia as
trevas se dissiparão e conseguirei sair do abismo das sombras e da morte!  

“Ainda que eu andasse pelos vales de sombra e de morte, não temeria
mal algum, porque Tu estás comigo!”

ADILSON VIEIRA ARAUJO